É uma tarde chuvosa. Observo o granizo cair por de trás do
vidro desse lugar que odeio ter de me esconder. O farol novamente quebrado. Uma
batida de carro e palavrões cotidianos. A chuva cai positivamente incessante
como idéias na minha cabeça, mas ao contrário dessas, a tempestade é indestrutível.
Ouço meu nome em voz indelicada interrompendo meu devaneio, castrando minha
produção autônoma. Penso em cuspir em sua cara, mas ao contrário, após
filtrar suas palavras, ouço com resignação.
E na calçada aquele diabo com
calças rasgadas passa novamente exalando o fedor do existir sem uma boa ilusão,
e todas aquelas pessoas iludidas reclamam do cheiro e riem, afinal, a graça da
vida só há quando não nos perguntamos se existe uma razão para levantar todas
as manhãs, certo? Eu desejava mesmo cuspir em alguém.
A chuva engrossa. Todos se concentram embaixo
do toldo, mas talvez eu não quisesse me privar de receber as gotas d’água em
meu rosto... Aqui, coberta e segura... Não sinto a vida.